Homenagem às mulheres negras rompe paradigmas

Em homenagem ao Dia Municipal da Mulher Negra, 25 de julho, a Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), premiou 20 mulheres negras com o Troféu Drª Edialeda Salgado na Câmara Municipal do Salvador que são símbolo de força e auto-superação diante dos desafios da vida.

Dra. Edialeda Salgado foi à primeira mulher negra a ocupar uma Secretaria de Estado no Brasil e que sempre lutou em prol dos direitos das mulheres negras.  

Esta premiação tem como objetivo estimular a autoestima através da valorização da estética negra, reconhecer os desafios das mulheres negras trabalhadoras do mercado de trabalho que historicamente foi ocupado por um público masculino, dar visibilidade as conquistas profissionais das mulheres negras da cidade de Salvador e incentivar outras mulheres a lutar e conquistar espaços diferenciados na sociedade soteropolitana.

O Prêmio Dra. Edialeda Salgado 2011 teve como tema MULHER NEGRA: DESAFIOS NO MERCADO DE TRABALHO e como parceiros a Superintendência Municipal de Políticas para as Mulheres – SPM, a Força Sindical, o SINTEPAV/Bahia, a Câmara Municipal, a Vereadora Tia Eron e a Loja Maçônica Filhos de Salomão.

Entre as principais homenageadas está Renilda Soares, 56 anos, que com muita ansiedade está prestes a completar 30 anos de formação em medicina em dezembro deste ano. Renilda celebra e ressalta a honraria prestada pela Semur e pelo Secretário da Reparação, Ailton Ferreira, e o Subsecretário, Edmilson Sales, em fomentar estímulos com exemplos positivos que sirvam de norte. Renilda é urologista com especialização em clínica geral, estudou em escola pública, no Jardim Cruzeiro na Cidade Baixa. Durante o período de formação na Faculdade Bahiana de Medicina, Renilda foi a única negra entre 75 alunos na sala de aula. “Nós não somos vencedoras, somos lutadoras”. Renilda declarou que os homens negros se discriminam. Ela ilustrou o mau exemplo dos jogadores de futebol negros que preferem se relacionarem apenas com mulheres brancas. “O jogador tem medo de se defrontar com sua negritude”, declarou Renilda.

“O sistema de Cotas vem desenvolvendo excelente trabalho para a educação de meninos negros. Por ano, em média, são 12 mil inscritos para estudar no Instituto Federal da Bahia (CEFET/BA), mas 2.000 vagas estão no sistema de Cotas, desabafou Aurina Oliveira Santana, 56 anos, professora de Eletrotécnica e Reitora do Instituto há mais seis anos.

Já a Militar Denice Santiago, 21 anos no exercício da profissão, é Coordenadora do Núcleo de Gênero da Polícia Militar – Centro Maria Felipa, no bairro do Barris. Denice lembra que o Núcleo tem cinco anos de existência e se destaca por pensar e repensar o papel do feminino na Corporação. Bacharel em Psicologia e formada em Segurança Pública, Denice falou que as especificidades da mulher com ação materna e o olhar diferenciado com sensibilidade são expostos em seminários, eventos e legislação interna na Corporação. Além disso, a prática dessas qualidades proporciona satisfação para os envolvidos. Para ela a parceria da Semur em promover o reconhecimento é indispensável para a proliferação de atos saudáveis. “A gente saí um pouco da cozinha e passa a atuar lugares de direito”, confessou emocionada.

O Secretário da Reparação, Ailton Ferreira, não conteve as lágrimas e discretamente em seu pronunciamento ovacionou as homenageadas como ícones para o passado, presente e futuro. Ailton Ferreira também lembrou que a mídia precisa dar visibilidade a mulheres negras que são fonte de sabedoria para a vida. Já o Subsecretário da Semur, Edmilson Sales, também sensibilizado recorda que o dia 25 de julho é uma importantíssima conquista para a historiografia brasileira.

Também esteve presente a Vereadora e Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher – Eron Vascocelos, a Tia Eron (DEM), que falou que a homenagem é uma quebra de tabu. “Maria Felipa é a grande heroína com ícone. Essas mulheres laboriosas que atuam em áreas masculinas servem de guia e modelo”, com brilho nos olhos declarou Tia Eron.

A cerimônia foi abrilhantada com a filarmônica da Guarda Municipal e da Polícia Militar e foi conduzida pela vereadora Marta Rodrigues (PT). Também estiveram presentes o Dr. Camilo Afonso, Adido Cultural da Casa de Angola, e a Sra. Jussara Rosa do FIEMA.